quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Poemas

Ministério da Saúde adiverte: Após a leitura destes "ditos" poemas, podem se sentir dores de cabeça, nauseas e mal estar, devido a terrivel escrita encontrada neles. -qq D: mas é praticamente verdade.
                
O velho

"Um Velho de ouro com um relógio de luto
Resmungando em suspiros sobre a vida de um minuto.
Vinham os reis, padres e frades
E perguntavam-no o porquê de tal luto resoluto.
O velho de ouro os respondeu
Escondeu um agouro e depois se rendeu
Disse que o mundo estava perdido
Mal dito isso e já fazendo pedido.

O tal velho era um sábio
Com um relógio de luto quebrado
Previa o futuro mas sempre havia um 'furo'
E por isso ficava com cara de tacho
Xingando sempre o relógio de chato.


O Tempo


O tempo se desfaz
Liquefaz, e se des-traz
Ao aveço do arabesco
Ele se faz e desfaz
Como débil e tenaz
Voa com o vento
Vai entre ruídos
Vai e voa em paz
Dizem, nada mais.

Porém,
No leito do rio
E no cântigo do dia
Ele jaz.

O tempo se desfez
Voou com o orvalho
Inexistente na sina
De retornar ao fim da vida.

Pois o vento suspira:
O tempo se é
Nada será, nada foi
Jamais voltará, jamais.


Noite


É noite
nada acontece
o vento rui
mas o tempo para.


O menino sem coração


Chove
Ele procura
Com uma bicicleta
Na rua de pedra
Seu Coração.

Encontra-o
No chão
Chora prantos em vão
Logo vai partir
Logo vai sumir
Logo, sem amar

E Fim.






PS: Hoje eu matei quantas pessoas? D: ainda bem que o meu blog é vazio

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Dostoiévski/Conto

             Voltou a luz aqui, já são 5:30 da tarde, fiquei lendo Dostoiévski.Gostei tanto de um trecho que vou postá-lo aqui para vocês, se interessarem-se, leiam, vale a pena ;)
Memórias do Subterrâneo-Capítulo 3.


"Como as coisas se passam entre aqueles que são capazes de se vingar e, em geral, de se defender?

Quando o desejo de vingança se apodera de seu espírito, não há lugar nele senão para este desejo.Precipitam-se para frente sem se desviar, cornos abaixados, como touros fuiriosos, e não se detêm na carreira senão quando se encontram diante de um muro.A propósito, diante de um muro, esses senhores, isto é, as pessoas simples e espontâneas, os homens de ação, apagam-se e cedem com toda a sinceridade.Para eles esse muro não é de maneira alguma o que é para nós outros, os que pensamos, e , por conseqüencia, não agimos: quer dizer, uma escusa (desculpa, justificativa);não é modo algum, a seus olhos, um pretexto cômodo para arrepiar caminho, pretexto no qual nós outros não acreditamos geralmente, mas do qual aproveitamos com alegria.Não eles, eles cedem de todo o coração.O Muro aos seus olhos um apaziguamento; oferece-lhes uma solução moral, definitiva, direi talvez mesmo mística.Mas tornaremos a falar ainda desse muro.
      Pois bem, é precisamente esse homem simples e espontâneo que considero o homem normal por excelência, no qual pensava nossa terna mãe natureza quando nos fazia amavelmente nascer sobre a terra.Invejo esse homem.Não nego: ele é estúpido.Mas que sabeis a este respeito?È possível que o homem normal deva ser burro.È possível mesmo que seja muito belo.E essa suposição me parece tanto mais justificada quanto, se tomarmos a antítese(algo contrário) do homem normal, isto é, o homem com a consciência refinada, o homem saído não do seio da natureza, mas de um *alambique (é quase misticismo, senhores, mas estou inclinado também a esta suspeita), vê-se que esse homem alambicado(afetado, pressumido) se apaga por vezes a tal ponto diante de sua antítese e lhe cede, que, malgrado todo o refinamento da sua consciência, acontece-lhe não mais se considerar senão tão pequeno como um rato.Será talvez um rato extremamente clarividente(que vê com clareza, cautelozo, prudente, cuidadoso), mas nem por isso é menos que um rato, e não um homem, enquanto o outro é bem um homem; em conseqüencia....etc..etc.MAs o pior é que ele se considera a si mesmo como um ratinho, ele mesmo!Nunguém, com efeito, exige dele essa confissão.E isso é muito importante.
       Vejamos então um pouco esse ratinho em ação.Ele também foi ofendido, por exemplo (ele se sente quase continuamente ofendido), e pretende se vingar.È possível que aculule em si mais raiva ainda que um homem da natureza e da verdade.O desejo desprezível e mesquinho de pagar ao seu ofensor o mal com o mal o domina, talvez ainda mais violentamente do que domina o homem da natureza e da verdade, porque este, em sua rudeza natural, considera sua vingança uma ação perfeitamente justa, enquanto o ratinho não pode admitir a justiça, por causa de sua consciência mais clarividente.Mas ei-nos enfim chegados ao ato mesmo, à vingança.Em acréscimo à vilania inicial, o desgraçado ratinho conseguiu acumular em torno de si, sob a forma de dúvidas e hesitações, tantas outras vilanias, à primeira indagação ajuntou tantas outras, completamente onsolúveis, que, por mais que fizesse, criou em torno de si um atoleiro fatal, um lodação fedorento, um charco de lama, formado de suas hesitações, de suas suspeitas, de sua agitação, de todos os escarros que fazem chover sobre ele os homens de ação que o cercam, o julgam, o aconselham e dele riem a bandeiras despregadas.
        Não lhe resta então mais nada a fazer, evidentemente, a não ser abandonar tudo, simulando desprezo, e desaparecer vergonhosamente no seu buraco.E lá, num sujo e lamacento subterrâneo, nosso ratinho, insultado, batido e escarnecido, lentamente mergulha na sua raiva fria, envenenada e sobretudo inesgotável."