sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Reinos de Ar

Os Reinos de Ar  (sobre as suas paredes)

Sabes que admiro palácios
E tu és o rei dos castelos de ar
Ludibria-me com a luz das palavras
Todas infladas, belas, a flutuar.

Bem entendes que eu jamais me negaria
A, sem fôlego, ouvi-las docemente
Como o sereno macio sobre a maresia
Acalmando águas de todas as correntes.

Pincela-me glicínias em lilás
Quando são, na verdade, frios sincelos
Poetifica pontes e poentes
Mas edifica torres intangíveis com esmero.

E com esmero esmeraldas desenha
Destila a minha esperança ferrenha
Ah!, contudo, meus olhos estão ocupados
Em amar o brilho, a aura, o éter
O sumo, a mentira, o léxico
Vocábulos tóxicos que embriagam-me a lógica
Tijolos de névoa que desfazem-se em troça.

Desfolha, com classe, meu coração
Até que nele se impregne o odor da ausência
A fragrância do vazio, do quarto já abandonado
Dos móveis empoeirados, ébria cadência.

Então, ó rei, não me escrevas
Não profiras mais nem uma linha
Nada me agrada esse sopro de dúvida
Que, cruelmente, meu pulso desalinha.

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Os Reinos de Ar  (sobre os seus solos)

Não sei o que é verdade
Tão logo não sei o que é irreal
Tampouco compreendo sua sinceridade
Que a mim se apresente colossal.

Agarro vento entre as mãos, é certo
E a minha cognição é um buraco aberto
Meço discursos, gestos e cenas
Mas ao ver-te, vertigem, caio na arena.

Picadeiro de ilusões suspensas
Extensas
Esta é a arena que me cerca
Mal dita
Assombram-me também as palavras não ditas
E todas estas amorfas entrelinhas
Submersas.

E reflito: serão estes diálogos mudos?
Mudas de flores sequer foram plantadas?
São elas de sementes utópicas, inventadas?
Ou, de fato, florescerão, belas, neste mundo?

Neste chão imundo, vagal, infecundo?
Ou será este de terra áurea, solar de fruir?
Não entendes? Não posso ver, distinguir!
Sou incapaz de dizer se o solo é raso ou profundo.

Ganchos de incerteza, logo, arrastam-me
Repuxam na pele todo descontrole
Tuas falsas bandeiras amordaçam-me
Faixas que cegam meus olhos
E deles se escondem.