quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Simultaneidade Infeliz

   Jogavam o mesmo jogo, a mesma estupidez insensata. E após fingirem metódica indiferença ao estarem juntos, corroíam-se pelo que não foi feito ou dito. No fim do dia repousavam as arritmias, os desassossegos e, por último, a cabeça sobre o conivente travesseiro, libertador daquelas trevas e mediador das travessias e travessuras que só são feitas mesmo nos sonhos. Mas que sonhos?
   O sangue pesa, e a angústia que se deita sobre a mãe das motivações é a única realidade palpável de todo aquele teatro sem roteiro. Talvez tais sonhos, depois do remorso cantarolar sua troça burlesca, fossem valsas, sublimes e belas, danças de logopéia à rigor, ela a poesia, ele, a ideia. E enfim juntos, sem palavras fantasiadas, mas sim com rimas fantasiosas. Não mais libertos entre grades, mas selados em cogitações, pensamentos.
   Nada mais que sonhos, pois hesitar é a sina imutável, nada além da palpitação omitida ao cruzarem fortuitos olhares. E ambos escreveram confissões nunca lidas, “correspondências jamais correspondidas”, as cartas jamais enviadas, possivelmente interceptadas pelos cânones limites. Ato Final: A impossibilidade daquele amor era irrevogável. 

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