segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Angor

  Toco em algo que rabiscaste levianamente e recuo, como que com tinta na garganta e pedras no coração, não digo que o remorso queima-me, mas recuo pois este cativa-me, gela-me e afoga-me, há tinta na garganta, existem palavras não pronunciadas, sentimentos não anunciados e tudo resta em mudez, este enunciado asfixia-me, este chama-se silêncio.
  Chama-se necrópole de desejos, passou a hora, foram-se os dias, são póstumos e finados anseios, no qual ao túmulo a lembrança sempre trás flores. Floreia memórias, disseca dissabores, desata essa corrente de angústia que arranha as artérias ao levar consigo seixos ao coração. Estes que lotam as breves existências e as eternizam n'uma contrição infindável, coagulam o pensamento, este agora é silêncio.
   Este silêncio leva consigo o nome "vazio". Vazio, pois é impotência, ausência e ignorância, impede-te de respirar e falar, não pronunciar, mas expressar-se. Imobilidade causada pelo medo, o bondoso senso, imperioso, impecável e vigilante. Residente deste rochedo cardíaco, o medo é onipresente. É, pois, onisciente, já que prega os riscos da sinceridade com destreza. 'Cale-se, é melhor", ele sussurra, ameaçador. É também onipotente, podendo facilmente sufocar, usando seus pesados tentáculos, a verdade. E, já se sabe: silêncio é o servo fiel do medo.
   Não se sabe ainda se o medo provém de dentro ou fora, mas deve compor, com certeza, os minérios das pedras que calam o coração. Bem, n'uma tarde singular tive a oportunidade agradável de conversar com o vento, que, em sua indubitável vivência, disse-me:
 "Pedras erguem castelos", e, depois de brincar com as pétalas e poeiras, pensativo, acrescentou "Se bem lapidadas".

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